quinta-feira, 21 de abril de 2016

Esclerose Múltipla aplicando leis da Física

Quando se recebe o diagnóstico de Esclerose Múltipla (EM), é comum que os diagnosticados entrem em depressão, o processo psicológico parece ser o mesmo do luto. Não foi o meu caso, encarei da forma mais positiva possível, tanto o luto pelo qual passei (pela perda da minha avó, amada e querida) quanto o diagnóstico da esclerose múltipla. E assim estava levando a vida com EM, com muita positividade nessa caminhada.

Nos últimos meses, muitas coisas aconteceram, notei que passei a me sentir frequentemente cansado. Coisa de esclerosado? Deve ser a fadiga… Enfim, uma das coisas que fiz foi uma RM de crânio e coluna cervical, parece que está tudo bem, mas não é só isso… Parece que eu progredi… Não no sentido legal da palavra. A notícia mesmo é que já não tenho mais EM do tipo Surto-Remissão, agora é o tipo Secundária Progressiva.


Enquanto a médica explicava tudo o que ficava na minha cabeça era que eu estava me sentindo tão bem, não tive surto e mesmo assim a doença progrediu? Como? Por quê? O remédio não está fazendo efeito? Pensei que a progressão/transição devia ser perceptível, mas parece que não... A Esclerose Múltipla resolveu mostrar que não é lá tão simples de lidar como imaginei e fez isso em um momento impróprio. A EM resolveu escolher, o momento que tem sido de grande felicidade pra mim, o final da gestação da Paula, a quase chegada da Tereza.

Obviamente, quando recebemos a notícia dessa transição inesperada, não ficamos muito empolgados. EU PELO MENOS NÃO FIQUEI. Recebi a notícia em uma consulta numa segunda-feira e no dia seguinte eu não tinha o mínimo ânimo pra sequer levantar da cama e ir pra fisioterapia. Passei o dia em casa, recebendo carinhos da Paula que precisou faltar aula pra me fazer companhia. "E agora? O que acontecerá comigo?", eram os únicos pensamentos que surgiam. Fiquei extremamente triste e tudo que eu queria era poder não fazer mais nada.

Agora me ocorreu um pensamento: a maioria das pessoas quando está no ensino médio e começa a estudar Física, se pergunta "qual a utilidade da Física pra minha vida?". Vou demonstrar como teve utilidade na minha vida. "Primeira lei de Newton: um corpo em repouso TENDE a continuar em repouso, um corpo em movimento TENDE a continuar em movimento". Aplicando essa lei da mecânica na vida é o seguinte: se eu estiver parado eu tenho tendência a ficar ali parado, mas não significa necessariamente que ficarei parado. Eu posso me movimentar por causa de algum estímulo que eu venha a receber.

Naquele mesmo dia, recebi VÁRIAS mensagens de amigos me enviando energias positivas e força. Força, era tudo o que eu precisava. Passei o dia lendo as mensagens e pensando o quanto aquelas pessoas se importavam comigo, pensei em todo o carinho que recebo e como isso me faz bem. Busquei até colo de mãe. Passei a semana recebendo mensagens positivas, física e virtualmente; teve o chá de bebê da minha filha, e o pessoal da minha turma foi super prestativo; Vi que realmente #JuntosSomosMaisFortes

Todo mundo que recebe o diagnóstico aprende alguma coisa com a EM. Seja valorizar as pessoas próximas ou ficar feliz por poder movimentar-se diariamente (quando o pode). O que eu aprendi com a EM é que é possível progredir em um tempo curtíssimo, sem fazer alardes; é possível evoluir continuamente… Será que essa evolução da minha EM poderia ser ela querendo que eu me movimente? Pois bem, graças ao carinho de TODOS, decidi não desistir assim tão fácil. Decidi que se a EM progrediu, por que eu não poderia fazê-lo também, só que num sentido positivo de evolução? Em 2 anos e pouco, ganhei vários amigos, uma nova família, uma nova visão da vida. Então, deixo aqui registrado o meu recado pra Esclerose Múltipla: “Esclerose Múltipla, valeu!”.

E a todos que me mandaram forças e mensagens positivas, muito obrigado! Sigamos todos, porque o fantástico show da vida não pode parar!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Eu e o Urubu Albino

Oi, gente, voooooooooltei!

O mês de janeiro foi muito corrido e cansativo, mas quer saber? Valeu MUITO a pena. Voltei a cursar Psicologia e estou gostando muito de todas as matérias, vi meu bebê através de ultrassom pela primeira vez... Enfim, um monte de coisas legais, mas hoje quero contar pra vocês uma história muito legal.

Como prelúdio, existia em Manaus uma livraria chamada "Valer", era uma livraria muito boa, vendia livros acadêmicos mais baratos do que em outras livrarias da cidade. O problema é que, não sei porque, as pessoas pararam de comprar livro lá e os donos resolveram fechar as portas da livraria. Anualmente, a livraria fazia um feirão, onde os livros baratos ficavam ainda mais baratos. O último feirão teve início dia 5 de novembro de 2015 e eu fui lá com minha companheira. Não encontrei os livros acadêmicos que eu queria, mas, em compensação, encontrei um livro "infantil". O livro chama-se "O urubu albino", de Zemaria Pinto.

Podem comprar aqui: http://www.saraiva.com.br/o-urubu-albino-3701762.html
// A estória contada no livro é a seguinte: a "mamãe urubu" estava sendo mãe pela primeira vez, a primeira ninhada era com dois ovos azulados. De dentro dos ovos saíram dois urubus que tinham a mesma cor, bem clarinhos... Mas tinham uma diferença: um tinha o bico azul-escuro, enquanto no outro o bico era da mesma cor da pelugem, praticamente branco. Os urubus cresceram e o urubu que tinha o bico claro tinha muitas diferenças em relação ao seu irmão urubu.

Bico-escuro conseguia voar com o pai, buscar comida para manter a família e era o "querido do pai". Bico-claro não conseguia fazer nada dessas coisas, tinha dificuldade em manter seus olhos abertos por causa do sol e, por isso, não conseguia voar. A mãe de bico-claro tinha pena por ele não fazer atividades com o pai, ele não sabia voar.

Até que uma noite, Bico-claro se jogou do ninho e sob a luz do luar voava livre. Fazia movimentos incríveis, coisa que ninguém ensinou e que ele jamais imaginou que pudesse fazer. Voou tão alto e tão livre que nem percebeu que veio parar na cidade. 

Ainda durante a noite, a mamãe-urubu acordou e sentiu falta de seu filhote, alertou todos os animais da floresta  sobre o filho perdido e disse que ele era incapaz de voar e tinha medo de algo ter acontecido a ele, principalmente porque era noite.

Então, aparece a Dona Coruja e explica que Bico-claro é albino e que o albinismo não é uma doença, é uma disfunção que pode acontecer em qualquer ser vivo. Explicou que Bico-claro consegue voar, buscar comida, fazer todas as coisas que urubus fazem, porém ele só consegue durante a noite porque albinos possuem dificuldades com a luz do sol.

Os animais saem em busca do urubu albino e quando ele volta ao ninho, a mãe e o pai pedem perdão por não terem tentado entender as dificuldades dele desde o início, os pais prometem que irão se adaptar e o ajudarão a ter uma vida independente, "com o jeito albino de ser"...

O livro finaliza com a lição da Dona Coruja: "[...] mesmo o mais diferente de nós é igual a nós, é nosso irmão. E é assim que devemos tratá-lo: com amor e compreensão de irmãos [...]". Depois disso, os animais noturnos, inclusive o urubu albino, voam rumo à liberdade de viver plenamente.  //

Quando se tem uma doença crônica, raramente não nos sentimos como o Urubu Albino, em busca de liberdade de viver com nossas limitações. As pessoas me veem como diferente, algumas vezes, mas julgam e nem sequer perguntam o que faz com que eu seja assim diferente. Geralmente, acham que o meu andar, que vez outra é descompassado, é resultado de uma noite de bebedeira ou acham que o meu cansaço é frescura, não me deixam descansar ou cochilar quando meu corpo grita por uns minutos de sossego.

Inicialmente eu me sentia muito como o urubu-albino, ninguém me entendia, só me achavam um incapaz de realizar qualquer coisa. Infelizmente, até os dias de hoje ainda sofro com a desinformação de alguns familiares. Algumas pessoas pensam que, só porque eu não consigo fazer algo em algum momento, eu sou incapaz de fazer qualquer coisa o tempo todo, confundindo limitação com impossibilidade. Bem como o Urubu Albino, eu só preciso ser aceito e ter minhas limitações respeitadas. Todo mundo quer ser respeitado, vamos todos querer respeitar também?!